INTRODUÇÃO
Fundamentalmente, a atividade de
planejamento é um processo de tomada de decisão e, este fato liga-o muito mais
ao subsistema social do que ao subsistema técnico de uma organização.
Assim, a metodologia de planejamento
a ser criada em uma organização deve ser concebida de forma específica e ao
abrigo da cultura dessa organização. Não existem métodos padronizados de
aplicação universal que possam ser aplicados indistintamente em qualquer
empresa ou instituição.
Implantar, então, um sistema de
planejamento e gestão em uma organização implica em:
·
Mobilizar a organização para a criação e implantação de uma processo de
planejamento e gestão empresarial concebido por aqueles que serão envolvidos em
sua execução.
·
Elaborar sua metodologia de forma simples, descomplicada, acessível a
todas as pessoas da organização, possibilitando, assim, transformá-lo em fonte
constante de aprendizado organizacional.
·
Focar resultados, possibilitando, através da gestão dos resultados
intermediários, a administração estratégica em tempo real. Adotar
descentralização e autonomia decisória como filosofia organizacional.
NOÇÕES DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
A mudança
estratégica pode ser definida como o realinhamento entre a organização e o
ambiente que influi na realização dos objetivos organizacionais. Dado que tal
mudança é realizada para aprimorar a capacidade da empresa de sobreviver
através do alcance de seus objetivos e satisfazendo aos stakeholders (pessoas ou
grupos que exerçam poder sobre a organização, como sindicatos, acionistas,
políticos, ...), seria estranho se os funcionários, de forma geral, resistissem
à mudança estratégica.
É possível explicar
tal resistência dos empregados seja proveniente do fato de gerentes e
estudiosos ainda terem em mente os conceitos da teoria X acerca da reação dos
empregados e que o comportamento destes seja conseqüência de tal forma de
pensar. O livro The
Human Side of Enterprise, clássico escrito por McGregor em 1960, expõe que
o comportamento gerencial depende das nossas suposições sobre as pessoas e caso
estas sejam consideradas predispostas a não gostar do trabalho, então o estilo
gerencial as força a se comportarem conforme suas expectativas.
Resumindo: no contexto de mudança
estratégica, as pessoas são vistas como favoráveis à estabilidade e portanto
resistirão e terão medo das mudanças.
Em contrapartida temos a teoria Y e
teoria cultural Z. Estas tendem a sobrevalorizar o lado humano em detrimento do
lado empresarial. Logo, nenhuma das três teorias sozinha é suficiente para permitir
o estudo da reação das pessoas diantes de mudanças estratégicas.
O grande desafio, em termos de fator
humano, relacionados ao planejamento da estratégia de uma organização é
integrar os lados humano e empresarial através da motivação de seus funcionários,
de tal forma que a companhia obtenha ganhos desenvolvendo e sendo desenvolvida
por seus empregados.
O que é Estratégia
O conceito de estratégia pode ser
definido de pelo menos duas perspectivas diferentes: pela perspectiva do que a
organização pretende fazer e pela perspectiva do que a organização realmente
faz. Pela primeira perspectiva, estratégia é o programa amplo para definir e
alcançar os objetivos de uma organização e implementar sua missão. Pela
segunda, estratégia é um padrão, isto é, a consistência de um comportamento
medido em um período de tempo.
A estratégia não pode ser definida
através de processos sistemáticos. Conforme explica Henry Mintzberg, estratégia
diz respeito a Preferências, Escolhas e Competição, e não um exercício de lógica
aplicada. É uma perspectiva compartilhada a respeito de intenções futuras.
Michael Porter
define estratégia como a adequação entre as atividades da empresa, de forma que
tal conjunto de atividades proporcione ao cliente um pacote de valor exclusivo.
A visão de Porter procura posicionar a empresa em seu ambiente competitivo. A
maior crítica que se faz ao modelo de Porter no planejamento estratégico é a
não consideração dos interesses dos stakeholders.
O Contrato Psicológico e Expectativas.
Indivíduo e Organização são sistemas
com necessidades específicas, que só se unem em relacionamento cooperativo
quando este permite satisfazer as necessidades de ambas as partes.
O contrato psicológico, que pode ser
definido como as expectativas mútuas do indivíduo e da organização, é a base
deste relacionamento. O quadro abaixo mostra alguns exemplos de expectativas.
Por Parte do
Indivíduo.
|
Por Parte da
Organização.
|
1) Salário.
|
1) Um dia de
trabalho honesto.
|
2) Oportunidade
de desenvolvimento pessoal.
|
2) Lealdade à
organização.
|
3) Reconhecimento
pelo bom trabalho.
|
3) Iniciativa.
|
4) Segurança
através de benefícios.
|
4) Conformidade
com as normas da organização
|
5) Ambiente
amigável e de apoio.
|
5) Eficácia no
trabalho.
|
6) Tratamento
Justo
|
6) Flexibilidade e
desejo de aprender e desenvolver-se.
|
7) Trabalho
significativo ou intencional.
|
Fonte : Adaptado de John Paul Kotter.
"The Psychological Contract : Managing the Joining-Up Process".
California Management Review ( primavera de 1973) : p.93 .
A Natureza das Necessidades do
Indivíduo
Popular desde a virada a século, a
visão racional-econômica pressupunha que a motivação básica do indivíduo era
econômica, de tal forma que os gerentes utilizavam estratégias de recompensa e
controle, que tentavam neutralizar o lado humano (sentimento) dos indivíduos.
Na década de 1940 torna-se popular o
modelo do homem-social, sendo o maior fator de motivação do indivíduo seu
contato social no trabalho. Tais necessidades sociais eram, então, mais
valorizadas que os incentivos econômicos do modelo anterior.
O próximo modelo em voga foi o da
auto-realização, segundo o qual o indivíduo possui uma hierarquia de
necessidades, a saber : (1) sobrevivência, (2) sociais, (3) auto-estima, (4)
autonomia, (5) auto-realização. O indivíduo deveria ser apresentado a trabalhos
desafiantes e interessantes e seu bom desempenho seria recompensado por
oportunidades de auto-realização.
O modelo homem-complexo tenta romper
com as escolas de pensamento citadas acima, pois abordagens universais são
demasiadamente simples. Este modelo reconhece que o indivíduo possui uma
variedade de necessidades e uma variedade de pontos fortes. Isto porque cada
indivíduo tem história de experiências de desenvolvimento e configurações
genéticas diferentes.
Os modelos de indivíduo são
importantes pois o comportamento destes na organização é diretamente
influenciado pela forma que os gerentes os vêem.
A Importância do Fator Humano
Estima-se que noventa porcento das
estratégias de mudança organizacional falham porque os fatores humanos não
foram bem avaliados. No caso de uma empresa onde esteja ocorrendo corte de
pessoal, por exemplo, é comum se esquecer do impacto psicológico nos empregados
remanescentes. Apesar destas organizações aparentarem ser mais enxutas e
eficientes, os efeitos colaterais na força de trabalho podem resultar na perda
dos benefícios.
Uma abordagem interessante do
problema é não considerar a produtividade somente em termos de entradas e
saídas, mas também no relacionamento humano. Por exemplo, uma empresa que tenha
acabado de realizar demissão de funcionários pode aparentemente estar mais
saudável. Mas uma das conseqüências possíveis é que aumente a sobrecarga
horizontal ( maior número de atividades) sobre os empregados e que aumente a
rotatividade da mão-de-obra na empresa. Com a saída de funcionários a
organização muitas vezes perde parte importante de suas competências básicas.
O desafio de se elaborar uma
estratégia clara é, antes de tudo, um problema organizacional fortemente associado
à liderança. Conforme pesquisa publicada em "Personnel Management" em
outubro de 1994, as características mais comuns encontradas no desenvolvimento
estratégico foram:
·
Liderança Estratégica proveniente dos escalões mais altos, com objetivo
de criar a visão, estabelecer valores e mostrar o direcionamento.
·
Uma equipe de executivos que compartilhe de valores comuns.
·
Uma visão nítida dos fatores críticos de sucesso no que diz respeito às
pessoas que avaliam o desempenho da empresa.
·
"Você não pode se mover em qualquer direção sem levar em
consideração o impacto resultante nos indivíduos, grupos, estruturas e
performance. Eu diria então que não se deve fazer nada sem levar em
consideração os efeitos sobre os recursos humanos"- diz o diretor de uma
empresa citado nesta pesquisa.
Formulação da Estratégia Como um
Processo Cultural
A visão mais tradicional que se tem
de estratégia é a de resposta de uma organização ao ambiente em que se
encontra. Desta forma, a gerência repensa e ajusta a estratégia conforme as
mudanças no ambiente. Porém, a organização possui severas restrições para fazer
tais reajustes. Costuma-se identificar estas limitações em fatores ambientais
ou internos à organização, mas a maior restrição na formulação estratégica
reside nos próprios elaboradores da estratégia.
A estratégia de uma empresa é um
excelente espelho da forma que a organização pensa, de sua estrutura de poder e
seus sistemas de controle. Em muitas empresas, por exemplo, as crenças
fundamentais são conservadoras, logo estratégias com baixo risco serão mais
valorizadas. Este tipo de organização é chamado de "defensora". O
oposto são organizações onde a tomada de decisão é menos rígida, com menos
ênfase no relacionamento formal. Estas são chamadas de "prospectoras".
A teia cultural de uma organização é
composta das rotinas, símbolos, estruturas de poder, estruturas
organizacionais, sistemas de controle, e de seus rituais e mitos. Apesar de não
ser estática, tende a evoluir lentamente e é basicamente uniforme para os
membros da organização (devido ao contrato psicológico).
FATORES A SEREM CONSIDERADOS NO
PLANEJAMENTO
Influências Externas
a) Valores da Sociedade: atitudes
perante o trabalho, autoridade, tolerância, dentre outros, são valores
constantemente modificados pela sociedade. Padrões de comportamento aceitáveis
algumas décadas atrás podem ser indesejáveis hoje.
b) Grupos Organizados : indivíduos
muitas vezes pertencem a grupos que os influenciam, tais como sindicatos,
partidos políticos e grupos religiosos. Algumas empresas recrutam pessoas que
pertençam a um grupo específico: a Golden Cross costuma recrutar protestantes e
esta religião influencia bastante a cultura da empresa e, consequentemente, sua
estratégia. Muitas vezes estes grupos exercem influência de forma informal, mas
desenvolvem normas de conduta que influenciam diretamente o comportamento do
indivíduo.
Natureza da Organização
a) Situação de Mercado: a situação na
qual a organização se encontra no mercado influencia no comportamento de
indivíduos e grupos. Empresas em boa situação costumam ter empregados mais
resistentes à mudança.
b) Produtos / Tecnologia: há duas
maneiras possíveis das influências tecnológicas influenciarem indivíduos e
grupos : através das limitações que impõe ao modo de trabalhar da organização e
através da mudança das habilidades necessárias e, por conseqüência disto, a
alteração da cultura organizacional.
Cultura Organizacional
a) História e Tradição: as histórias
e os mitos de uma organização mostram a essência das estratégias passadas,
legitimizam os tipos de comportamento de indivíduos e grupos de dentro da
organização e as atitudes dos que estão fora desta.
b) Liderança e Estilo Gerencial: a
liderança é um fator indispensável para o desenvolvimento da estratégia.
Pessoas que compartilham de valores comuns são levados a posições de liderança
de modo que possam difundir tais valores e crenças pelos demais membros da
organização.
c) Estrutura e Sistemas: a estrutura
da organização é importante no desenvolvimento estratégico, pois a direção
favorecerá a adoção de objetivos que fortaleçam a estrutura da qual faz parte.
O sistema de controle é importante pois os indivíduos tendem a elaborar
estratégias que melhorem os parâmetros medidos por tais sistemas.
Poder nas Organizações
O mecanismo pelo qual as expectativas
podem influenciar a política da organização é chamado de poder. É melhor
definido como a extensão até a qual indivíduos ou grupos são capazes de
persuadir, induzir o coagir outros em determinados cursos de ação.
Uma abordagem para o modo pelo qual o
poder está estruturado nas organizações é derivada da estrutura de classes.
Marx (1876) argumentou que os interesses das classes são estruturalmente
pré-determinados, independente de outras bases de identidade. Weber estendeu os
conceitos de Marx, afirmando que o poder se origina na posse e controle dos
meios de produção, mas também poderia ter origem no conhecimento das operações.
Fontes de Poder na Organização
a) Hierarquia : fornece o chamado
"poder formal" sobre pessoas . É um dos métodos utilizados pela
gerência senior para influenciar nos rumos da organização. Quando a decisão
estratégica é bastante concentrada nos níveis mais altos da hierarquia, este
tipo de poder é grande junto aos gerentes senior. Porém, o uso isolado deste
tipo de poder pode ter efeitos bastante limitados.
b) Influência: pode ser uma fonte de
poder, principalmente quando proveniente de líderes carismáticos. É usual a
visão de que a mais importante tarefa do gerente é moldar a cultura organizacional,
através da influência, de forma que esta se adapte à estratégia.
c) Controle de Recursos Estratégicos:
é uma grande fonte de poder, mas que costuma sofrer grandes alterações ao longo
do tempo.
d) Habilidade / Conhecimento: alguns
indivíduos podem ter poder a partir de suas capacidades ou conhecimentos, sendo
considerados insubstituíveis. Outros criam uma mística acerca de seus
trabalhos, o que pode ser uma estratégia arriscada de se obter poder pois
outras pessoas na organização podem se interessar em alcançar as mesmas
características destes indivíduos.
Implementação da Estratégia.
Líderes
O desafio de se
desenvolver ou restabelecer uma estratégia clara é, antes de mais nada, um
problema organizacional e depende da liderança. Com tantas forças trabalhando
contra a realização de escolhas e trade-offs, a presença de
estrutura intelectual que guie a estratégia é necessária para contrabalançar a
resistência às mudanças.
É comum observar que, em muitas
organizações, a liderança se tornou meramente a implementação de melhoras
operacionais e fazer acordos. Uma das principais tarefas do líder é ensinar aos
outros sobre estratégia - e como dizer não, pois as escolhas estratégicas sobre
o que não se deve fazer são tão importantes sobre as que dizem respeito ao que
deve ser feito.
Cabe ao líder
possuir uma disciplina constante e facilidade de comunicação, guiando os
empregados para que estes façam escolhas devido aos trade-offs que aparecem
em suas atividades individuais e nas decisões rotineiras.
Motivação.
Uma vez escolhida a estratégia da
empresa, cabe ao gerente a seguinte pergunta: "Como posso conseguir que um
funcionário faça o que eu quero ?".
Sabe-se hoje que os fatores
envolvidos na produção da satisfação ( e motivação) no trabalho são separados e
distintos dos fatores que levam à insatisfação no trabalho. Segue-se que
satisfação e insatisfação no trabalho não são eventos antagônicos.
Devemos considerar dois conjuntos de
necessidades humanas. Um conjunto de necessidades pode ser visto como da própria
natureza animal humana - a pulsão interna em evitar a dor causado pelo
ambiente, associada às pulsões aprendidas que ficam condicionadas às
necessidades fisiológicas básicas. Outro conjunto está relacionado a uma
característica humana singular, a capacidade humana de experimentar o
crescimento psicológico.
Os fatores de crescimento ou
motivadores que são intrínsecos ao trabalho são: execuções, reconhecimento
pelas execuções, o trabalho em si, responsabilidade e crescimento ou progresso.
Os fatores que evitam a insatisfação extrínsecos ao trabalho são : política e
administração da empresa, supervisão, relacionamentos interpessoais, condições
de trabalho, salário, status e segurança.
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