Devido às mudanças tecnológicas e
sócio-econômicas verificados em escala mundial cresceu substancialmente, nas
últimas décadas, a importância dos pequenos empreendimentos como gerador do
desenvolvimento econômico face a sua habilidade para inovar, diversificar e
criar novos empregos. Tal fenômeno coloca, perante os agentes de
desenvolvimento, órgãos governamentais, universidades e institutos de
treinamento, o desafio de fomentar o desenvolvimento de novos empreendimentos
através da formação de uma cultura empreendedora.
Por tudo isto a educação para o empreendedorismo
está se tornando um componente importante na integração dos programas
acadêmicos de universidades e escolas, com nítida tendência a expansão
propelida pelas forças sócio-econômicas.
Recentes pesquisas confirmam a nossa
previsão: Scott e Twomey baseados em dados coletados junto a estudantes
ingleses relata que 25% deles tinham em mente a idéia de iniciar um negócio e
41% aspiravam por tornar-se patrão de si próprio. Cifras reveladas nas
pesquisas de Harrison & Hart mostram que 47% dos estudantes irlandeses
expressavam o desejo de gerenciar seu próprio empreendimento. Sandholtz revela
que 45% dos 1.000 estudantes de pós-graduação em Administração de Empresas da
Universidade de Pittsburg desejavam ser empreendedores. Welsh pesquisando 2.000
estudantes descobriu que 82% expressaram interesse em cursar uma das
disciplinas relacionadas com empreendedorismo.
Durante os últimos seis anos temos
feito similar levantamento junto aos estudantes de Administração Mercadológica
das minhas classes na Universidade Católica (UCSAL) e observamos que enquanto
nas primeiras contagem apenas 10% revelaram ter intenção de iniciar seu próprio
negócio, seis anos depois (1998) este percentual eleva-se a 48% !
Por outro lado, a demanda por
ocupações vinculadas ao auto-emprego ou empreendimento próprio está refletida
no crescente número de universidades que iniciaram novas disciplinas ou
programas relacionados com empreendedorismo, tais como centenas delas no
exterior e algumas no Brasil, notadamente : USP, UFSC, UFPe, UNB.
A criação de empregos e oportunidades
de trabalho através do empreendedorismo está atual e mundialmente bastante
pesquisada e documentada. Líderes regionais e governamentais sentem-se
obrigados a estimular a criação de novos empreendimentos. Tanto inovações como
a criação de postos de trabalho implica no desenvolvimento de algum tipo de
organização para operar o conjunto das atividades de várias pessoas em busca de
um objetivo a ser realizado, pois, as inovações tecnológicas não tem serventia
até que alguém as explora organizadamente. Historicamente o realizador é aquele
que toma a inovação e cria a equipe para aproveita-la socialmente.
As implicações desta realidade em um
mundo de rápida descontinuidade afeta as tradicionais políticas administrativas
das organizações. Para elas sobreviverem e progredirem haverá necessidade de
novas competências administrativas semeadas de empreendedorismo. Recentemente
visitamos a USF (Universidade São Francisco) em Bragança Paulista e verificamos
o planejamento para a transição da organização burocrática envelhecida para uma
organização moderna, em busca dos "entrepreneurs", de modo a
aproveitar o empreendedorismo latente na maioria dos seus docentes.
Visualizamos o emergir de uma
economia baseada em pequenos e médios negócios o que nos leva a realçar a
necessidade de preparar e educar potenciais empreendedores para que
identifiquem oportunidades, equipando-os com os conhecimentos e as habilidades
necessárias ao gerenciamento destas oportunidades com redução dos riscos e da probabilidade
de fracasso. Neste contexto, as universidades tem um papel a desempenhar e uma
oportunidade para empreender.
EMPREENDEDORISMO PODE SER ENSINADO ?
Esta indagação tem sido fundamental.
Um levantamento feito por Vesper entre professores das 15 melhores
universidades americanas, revela que 93% dos respondentes concordam com a
possibilidade de empreendedorismo ser ensinado. Em outro estudo Fleming indicou
que a educação aumenta a conscientização dos estudantes sobre empreendedorismo
e por isso facilita o desenvolvimento das ações empreendedoras.
Todavia a grande questão - a nível
mundial - é saber se o atual sistema educacional promove a formação da cultura
empreendedora?
Um grande número de educadores
reconhecem que o atual sistema de ensino põe muita ênfase na aquisição de
conhecimento e pouco enfoque é dado no desenvolvimento de habilidades
específicas para o uso prático desses conhecimentos.
A maioria reconhece que a metodologia
instrucional atualmente dominante não enfoca o desenvolvimento da cultura
empresarial. Os estudos de McMullan e Long sugerem que na educação para o
empreendedorismo os estudantes deveriam lidar com a ambigüidade e exercer a
prática de definir problemas e projetar soluções .
Eles mostram que - nos atuais cursos
de Administração de Empresas que ensinam as funções Marketing, Financeira e
Pessoal como se elas fossem aplicáveis de modo igual nos diferentes estágios e
dimensões de um empreendimento - uma nova estrutura se faz necessária. Como os
maiores problemas empresariais ocorrem nos primeiros estágios do empreendimento
parece-nos óbvio que a educação para o empreendedorismo não seja ensinado por
funções departamentais e sim por estágios de desenvolvimento do negócio.
No Centro para Estudos do
Empreendedorismo do Babson College (EE.UU.) - núcleo pioneiro de respeitada
instituição de ensino e pesquisas relacionados com o tema - as diretrizes
educacionais desafiam os estudantes a se comportarem tanto como generalistas
como especialistas para serem desenvolvedores e solucionadores de problemas em
oposição a sonhadores. As diretrizes enfocam o raciocínio conceitual todavia,
seguido da implementação prática e real. Em termos de ensino de gerenciamento
de oportunidades de negócios nada é mais refinado e desafiador do que o esta metodologia
educacional.
Não obstante, a educação para o
empreendedorismo não deve ser confundida com a educação para gerenciar pequenos
negócios. Em recente reunião com dois avaliadores da Comissão de Especialistas
de Administração que visitaram uma universidade constatamos a crítica destes
feita a um colega docente por enaltecer o empreendedorismo e convocar
palestrantes dirigentes de órgãos públicos para debates com os alunos quando -
segundo os visitantes – os palestrantes convocados deveriam ser empresários e
não políticos.
Refutamos as críticas lembrando que o
empreendedorismo não se confunde com empresariabilidade. A cultura
empreendedora poderá existir em organizações estatais, ONGs ou universidades
sem fins lucrativos. Aliás, outros especialistas, também do MEC, em recente
seminário sobre as novas diretrizes ocorrido em Marilia (São Paulo),
interpretava as novas diretrizes, sugerindo que os coordenadores de cursos
universitários fossem menos gestores de recursos e mais gestores de
oportunidades.
O principal objetivo da educação para
gerenciar pequenas empresas é ensinar técnicas gerenciais simples e aplicáveis
ao pequeno negócio enquanto que a educação para o empreendedorismo visa
estimular a cultura empreendedora desenvolvendo a sensibilidade individual ou
organizacional (coletiva) para a percepção de oportunidades (tanto externas
quanto intra-organizacionais), ensinando o empreender responsável mediante a
assunção de riscos pre-mensurados e aceitáveis.
Embora os dois enfoques devam ser
praticados nos cursos universitários o educador precisará de um novo modelo
aplicável na educação para o empreendedorismo. Tendo em vista que o
empreendedorismo é um processo econômico altamente criativo, permanecem dúvidas
de que as tradicionais formas de educação possam - isoladamente - resolver tal
problema educacional.
Como integrar a ênfase em ordem,
racionalidade e previsibilidade (existente nas técnicas de administração
ensinadas na universidade) com a abordagem mais carismática do aluno
genuinamente empreendedor, sem prejudicar este potencial?
Tendo ajudado a fundar a primeira
escola de administração de empresas da Bahia (UFBA, 1960) lembro-me que
prevalecia - e ainda hoje prevalece em muitas novas escolas – um elevado grau
de controle na sala de aula e uma dependência na autoridade do professor e na
sua validação como especialista.
Em contraste, numa posição de
empreendedor o indivíduo deve desenvolver um novo estilo de aprender no qual
profundos aspectos do seu próprio ser, emoções crenças e valores estão
influenciando o processos do aprendizado. Neste sentido Gibb sugere que seja tentado
uma nova praxis pedagógica , encorajando os estudantes a buscar movas maneiras
de ajuste ao mundo real, como exemplificado a seguir:
·
aprender fazendo;
·
Encontrar e explorar conceitos mais amplos relacionando-os com um
problema a partir de um ponte de vista multidisciplinar;
·
"Ler" o ambiente em sua volta, a pensar por ele mesmo, ficando
mais independente de fontes externas de informação inclusive do professor;
·
Usar a própria sensibilidade, atitudes e valores desconectados das
informações pre-estruturadas o que significará maior aprendizado com base na
experiência;
·
Propiciar mais oportunidades para a montagem de redes de contatos ou
parceiros no mundo prático e real;
·
Desenvolver respostas emocionais quando defrontado com situações
conflitivas encorajando-os a decidir e comprometer-se com as ações a executar
sob condições de estresse e incertezas.
Propõe-se, finalmente, que as escolas
de administração e negócios desloquem sua prática para um foco com maior
empreendedorismo, como está sumariado na tabela a seguir:
FOCO
TRADICIONAL NAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
|
FOCO NA EDUCAÇÃO PARA O
EMPREENDEDORISMO
|
Julgamento crítico após análise de um grande volume de informações
|
Decisão por sensibilidade intuitiva feita com informações limitadas
|
Compreender e invocar a informação por si própria
|
Compreender os valores dos que transmitem e filtram as informações
|
Assumir as metas até o fim
|
Reconhecer a grande variedade de metas dos outros
|
Busca (impessoal) para verificar a verdade absoluta estudando as
informações
|
Decisões baseadas em julgamentos de confiança e na competência das
pessoas
|
Compreensão dos princípios básicos da sociedade num sentido metafísico
|
Busca ajustar-se, na prática, aos princípios da sociedade
|
Busca da resposta correta com tempo para faze-lo
|
Desenvolve a solução mais apropriada sob pressão de tempo
|
Aprendizado na sala de aula
|
Aprende fazendo e fora da sala de aula
|
Vislumbra informações oriundas de especialistas e fontes com
autoridade
|
Vislumbra informações pessoalmente prospectadas de qualquer fonte,
ponderando seu valor
|
Avaliação através de instrumentos escritos
|
Avaliação por julgamento de pessoas e eventos via
"retrocomunicação direta"
|
Sucesso no aprendizado medida pelos testes de conhecimento
|
Sucesso no aprendizado medido ao resolver problemas e na experiência
do fracasso
|
Por outro lado, a qualidade do ensino deverá estar relacionada com as
necessidades individuais de cada estudante, isto é, o modelo requer educação
individualizada para cada aluno. Será necessário prospectar, previamente, o
estilo de aprender de cada aluno
|
Este é um outro grande desafio para todos educadores do
empreendedorismo
|
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